sábado, 23 de janeiro de 2010

Just give me your hand.

- Não acreditas no que se passou. Dá-me a tua mão.
- Não. Primeiro contas. Depois dou-te a mão.
- Dá-me a tua mão.
(Ela não lhe deu a mão)

O comboio chegou à estação e tive de embarcar. Era o último do dia. Tinha mesmo de ser. Tive de te largar a mão, de te dar o último beijo e de dizer “Amo-te” uma última vez nesse dia.

Entrei na carruagem. Eu e mais duas pessoas. Deixei os dois vultos entrarem antes de mim porque te queria ver a subir as escadas que davam para o outro lado da linha.

O comboio partiu. Ficou o sorriso nos lábios e a vontade de dizer que voltava, ainda que a certeza fosse pouca. Por isso é que quando regressava a casa me sentia sozinho. E as minhas mãos tão frias que nem conseguia pensar como iria sobreviver. Custou-me tanto passar. Sem te ver, sem te ouvir, sem te agarrar e sem SEQUER o teu cheiro no cachecol a que me habituei. Acredita, nunca me foi tão difícil enfrentar uma viagem sem saber que não te ia voltar a ver.

1ª paragem, sai uma pessoa apressada. Apenas se ouvem os passos apressados porque o autocarro não espera, nem o tempo pára.

E o comboio arranca. Continua o barulho de fundo: o ruído das portas a chaparem e a mulher que ao fundo liga ao filho mais novo que voltou da escola há 4 horas mas só agora é que ela teve tempo para lhe ligar.

2ª paragem, não sai nem entra ninguém. O comboio parou porque a rotina assim o dita. O raio da rotina que faz com que tudo seja igual. A rotina deveria primar pela constância em mudar. Mas não. Até porque é mais fácil repetir, muitas vezes, de preferência.

Como não há ninguém novo no comboio tudo fica igual, menos as minhas mãos. Agora estão mais frias. E continuo sem ti.

3ª paragem, saem duas pessoas, entram três. Três amigos. Nem imaginas como me sinto invejoso. E não é pelos três amigos. A rapariga e os dois rapazes falam da semana que passou. Eu também posso falar com os meus amigos.

Tenho inveja do casal que entrou na carruagem comigo, aquele vulto a que não prestei atenção. Eles entraram e sentaram-se à minha frente mas só agora olhei em redor. Só agora abri os olhos. Até agora a viagem foi a tentar ouvir a tua voz a sussurrar “Amo-te” ao meu ouvido. E quando abri os olhos vi-os de mãos dadas. A desperdiçar o tempo que passam juntos a que não dão valor.
Tenho inveja deles, porque naquele tempo em que estão juntos,

Eles podem fazer a viagem de mãos dadas.

(Ela deu-lhe a mão. Depois disse: Amo-te)

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